Homenagem ao Pe. Leslaw Gwarek

Pe. Leslaw Gwarek SAC por muitos anos foi o provincial dos padres palotinos. Era especialista da Sagrada Escritura e havia viajado paraOdivelas/ Portugal para pregar sobre Missões. Alguns dias antes havia enviado para pe. Jan Sopicki SAC (eles foram da mesma turma no seminário, e se ordenaram juntos) para que este traduzisse para o portugues, a homilia que ele iria fazer no domingo 26 de outubro. Mas não deu tempo. O Pai das Misericórdias o chamou de volta. Agora esta homilia será lida aqui por pe. Jan, em todas as Santas Missas.

Cabe a nós, agradecermos a Deus ter-nos emprestado pe. Leslaw e por seus 38 anos de vida sacerdotal. Eu o conheci quando enriqueceu o I Congresso Arquidiocesano da Divina Misericórdia em 2012 no Santuário da Divina Misericórdia no Rio de Janeiro com a palestra "Misericórdia na Missão da Igreja-João Paulo II. Sentirei saudades: do seu ensinamento da sua simplicidade, do seu sorriso.

Que pelas mãos de Nossa Senhora Mãe de Misericórdia, ele encontre a Jesus Misericórdioso!

HOMILIA PARA DOMINGO DAS MISSÕES

pe-leslaw-gwarek"Cada ano, em outubro, celebramos o Dia Mundial das Missões. Neste ano o Papa Francisco assim escreveu em sua mensagem:

“O Dia Mundial das Missões é um momento privilegiado para os fiéis dos vários Continentes se empenharem, com a oração e gestos concretos de solidariedade, no apoio às Igrejas jovens dos territórios de missão. Trata-se de uma ocorrência permeada de graça e alegria: de graça, porque o Espírito Santo, enviado pelo Pai, dá sabedoria e fortaleza a quantos são dóceis à sua ação; de alegria, porque Jesus Cristo, Filho do Pai, enviado a evangelizar o mundo, sustenta e acompanha a nossa obra missionária.”

Alegramo-nos e somos gratos a Deus, porque a Sociedade do Apostolado, a província polonesa da Anunciação do Senhor e os Padres Palotinos são participantes da atividade missionária da Igreja. Os nossos coirmãos anunciam Cristo para aqueles que ainda não O conhecem ou ajudam as Igrejas novas na sua missão. Os nossos missionários trabalham na Coréia do Sul, Papua, Nova Guiné – de um lado do mundo e no Brasil e México, do outro lado. Dizemos, brincando, que o sol sempre brilha sobre a nossa Província. Trabalhamos também numa Igreja renascente na Bielorrússia.

Gostaria de partilhar com Vocês a minha experiência com os nossos missionários em Papua, Nova Guiné. Quando visitei os nossos coirmãos, na qualidade de superior, não queria só ouvir o que eles contavam sobre o seu trabalho. Passei alguns dias junto a cada um deles, experimentando o que quer dizer estar presente e trabalhar em diversas missões. Lembro-me de um domingo com o Pe. Cristóvão, que trabalhava no rio Sepik. Este rio é grande, com quase mil e duzentos quilômetros km de comprimento, que nesta altura, tem quase quatrocentos metros de largura e oitenta metros de profundidade. Podem entrar nele os navios marítimos até oitocentos quilômetros km do mar.

Papua, Nova Guiné é a segunda maior ilha do mundo localizada perto do equador. Isso significa que tem o clima tropical, o sol nasce às 6h e se põe às 18h. Pe. Cristóvão visitou várias comunidades ribeirinhas. Naquele dia levantamo-nos às 5h, preparamos o nosso café da manhã e tudo o necessário para a viagem. Foi preciso levar tudo para a celebração das Missas, além combustível para o barco, água potável, etc. Saindo da casa do Pe. Cristóvão eu levei tudo isso e ele carregou o motor do barco. Por prudência o guardamos em casa para não ser roubado. Já na porta de casa estavam esperando por nós os mosquitos que não nos deixaram em paz até o momento da partida. O bote era pequeno, de três metros de cumprimento, com motor de quinze cavalos. Embarcamos com tudo isso e partimos. No rio tivemos que ter muito cuidado por causa de troncos de árvores flutuando nas águas como também do capim flutuante. Em nosso barquinho nem dava para se movimentar. Quando queria mudar a posição tinha que avisar ao Pe. Cristóvão para segurar o leme como mais força. Depois de duas horas de viagem, chegamos para à aldeia. Todas as casas foram construídas sobre palafitas, porque a diferença de nível de água entre o tempo de seca e das enchentes é de oito metros.

Pe. Cristóvão primeiro atendeu as confissões e eu visitei a aldeia. A maior alegria era das crianças que me acompanhavam e matavam os mosquitos que me atacavam. A capela também foi construída sobre palafitas. Como chão serviram os galhos, algo parecido com a cerca em volta e o telhado de folhas de palmeiras. Debaixo da capela ardiam alguns troncos de madeira e a fumaça enchia a capela. A fumaça devia espantar os mosquitos, mas eles não levaram isso em conta. Durante a Missa no altar havia algumas pencas de galhos que serviam para o celebrante matar os mosquitos durante a celebração. Depois da Missa houve uma reunião com a liderança a respeito da formação de atividades pastorais para as próximas semanas, porque o Pe. Cristóvão poderia voltar aí uma vez por mês. Retornamos para o nosso barquinho e nos dirigimos para a próxima aldeia.

A situação se repete. Depois da segunda Missa sentimos fome. Ninguém nos ofereceu nada para comer. Pe. Cristóvão levou consigo um pouco de arroz. Pedimos a um dos líderes que nos cozinhasse este arroz. Fomos para a sua casa nos palafitas, como as outras casas da aldeia. Fiquei surpreendido porque a casa não tinha paredes, camas ou outros móveis. A única coisa que existia era uma grande bacia onde havia fogo aceso. Eles dormem no chão de galhos, não tem móveis, por causa do clima tropical e por não precisarem de muita roupa para se vestir. As roupas que possuem penduram nos ganchos de madeira debaixo da cobertura.

Quando o arroz estava pronto, sentamo-nos no chão e recebemos dois pratos de plástico. Em volta estava sentada a família olhando para o nosso arroz. Deste jeito logo perdemos a vontade de continuar comendo. Passei o prato com arroz para o dono da casa e o Pe. Cristóvão para o outro homem. Quando eles comiam todos olhavam para eles como se pedissem: deixem algo para nós. Os pratos com arroz passavam para os mais novos. Tivemos que ir embora. De novo, viajamos de barco durante três horas, até chegarmos à nossa missão. O calor continuava. O sol refletia na água, mas pelo menos, não havia mosquitos durante a viagem. Voltamos antes do pôr do sol. Tivemos que carregar tudo de novo para a nossa casa acompanhados, de novo, pelos mosquitos. Entramos em casa perguntando: e agora? Vamos tomar banho, preparamos alguma coisa para comer ou vamos dormir?

Recentemente, Pe. Cristóvão voltou à Polônia depois de vinte anos nas missões. Freqüentemente tem ataques de malária e a sua saúde ficou comprometida. Um dos nossos missionários, que atualmente trabalha na Papua, Nova Guiné, viaja de barco entre as ilhas oceânicas, no litoral oriental da ilha, atendendo a oito ilhas. Para a mais distante ele precisa fazer quase duzentos e cinqüenta quilômetros. Quando sai, no início de dezembro, só retorna no final de janeiro. Brincamos com ele dizendo que, aonde ele chegava, para os moradores era o dia de Natal.

Peço a vocês que rezem pelos nossos coirmãos missionários, porque eles precisam muito de orações. Todos eles já pegaram a malária. Se for possível, peço a vocês uma ajuda material e ajuda para as nossas missões. Desde já, agradeço a todos pela ajuda e pelas orações. O Papa Francisco assim escreveu na sua mensagem: “Deus ama quem dá com alegria” (2 Cor 9,7). O Dia Mundial das Missões é também um momento propício para reavivar o desejo e o dever moral de participar jubilosamente na missão ad gentes. A contribuição monetária pessoal é sinal de uma oblação de si mesmo, primeiramente ao Senhor e depois aos irmãos, para que a própria oferta material se torne instrumento de evangelização de uma humanidade edificada no amor.

Agradeço ao Prior, Senhor Padre João Francisco, pelo convite para visitar vocês e a possibilidade de dizer algo sobre as nossas missões."

Pe. Leslaw Gwarek